Saí do barco perto das dez horas da manhã de Domingo, na descida da rampa estavam os elementos da equipa de entretenimento do barco a desejar boa viagem a quem por lá passasse. Agradou-me e, como se da cereja do bolo se tratasse, ao mesmo tempo estava a ouvir It´s a Beautiful Day dos U2, convidativo ao percurso que iria iniciar. Subi a serra de Monchique a pensar que no final do dia estaria em Santarém - pouco faltou se não fosse o tempo perdido (aproximadamente uma hora) depois de uma decisão mal tomada em Luziane-Gare. As primeiras três horas foram espectaculares com a temperatura a aumentar minuto a minuto. Às duas da tarde estava em colos e já não aguentava a torreira (+ de 37º). Parei no primeiro restaurante que achei, de onde só saí às quatro da tarde, depois de ter almoçado, feito a recuperação física, enchidos os bidões de água e comprado pêssegos carecas para o restante percurso. A dureza do clima não me abalou nem um pouco, continuei pelo Alentejo a cima em direcção a Alcácer do Sal, à qual cheguei por volta das 9h da Noite. Encontrei uma residencial coloquei a bike na garagem do edifício, fiz novamente a recuperação, tomei um banho e fui jantar - massa cozida com uma posta de perca grelhada na brasa. O restaurante, agradável por sinal, com a esplanada elevada e vista para o rio iluminado pelos candeeiros da estrada. Após o jantar fui passear pela cidade e por fim adormeci na cama do hotel pouco antes da meia-noite com a sensação de que o dia tinha corrido bem e que o dia seguinte ainda correria melhor.
Às cinco e meia da manhã acordei e já não consegui dormir mais, tal era a excitação de chegar a casa o mais rápido possível. Higiene pessoal, leite com cereais, banana, fast recovery e toca a recolocar todos os pertences no alforge. Aqui vou eu! Segundo dia, segunda etapa. Até Santarém foi tudo "five stars", sem sol, sem chuva, sem vento e temperatura ambiente que convida qualquer Alberto Contador a bater recordes. Depois de ter feito mais de 5km na IC10, ser chamado à atenção por um agente da polícia (que entendeu a minha causa), ter avançado pela vedação para entrar no bom caminho e ter feito alguns quilómetros desnecessários, eis que me encontrava às portas de saída de Santarém com o McDonald´s à minha frente. Não resisti... Pedi um McChicken no McDrive, comi-o em duas dentadas. Descansei um pouco deitado no chão com as pernas para o ar, massajando-as muito bem. Após meia hora de recuperação continuei a epopeia do Andy "Machado" Shleck. Desta feita pela Serra dos Candeeiros (a subida foi dura) em direcção à Marinha Grande e ao almoço de guerreiro. A partir da Batalha fez-se inverno… O frio, o vento e a chuva apoderaram-se do meu cenário no relativo curto trajecto até à Marinha. O que me valeu foi o impermeável (e corta vento) que tinha colocado no alforge por descargo de consciência. Chegado ao destino (por volta das 16h) encontrei um centro comercial e o Mr Pizza. A papa estava uma delícia, tendo comido duas doses de esparguete à bolonhesa cuidadosamente preparadas pela jovem que se encontrava de serviço. Enquanto esperava pelo almoço fiz a minha recuperação com gelo e novamente massagens nas pernas. Digo-vos, por experiência própria, que uma boa recuperação após exercício prolongado é rejuvenescedora. Saí da Marinha Grande por volta das seis da tarde com vontade de chegar a Aveiro, não fossem os quatro furos no espaço de meia hora de viagem (por cada furo perdi no mínimo 20 minutos). Estas coisas fazem parte do processo, "não é defeito mas feitio" já dizia uma grande amiga minha. Acabei por ficar na Figueira da Foz na casa de um amigo (Um bem haja para eles). Mais uma noite bem passada com a ternura necessária que as pernas mereciam (273km).
Terceiro dia, terceira etapa. Acordei cansado, mas a vontade era tanta que às sete e vinte da manhã já estava em cima dela em direcção a casa. A ideia era acabar a aventura à hora do lanche. Em Ovar, ao meio dia aproximadamente, bebi um café com o Bruno e o seu sogro para logo a seguir começar o meu desespero. O joelho "cedeu" e cada pedalada era uma facada. Primeiro a dor era leve e desconfortável, depois mais acentuada até comprar uma joelheira elástica numa das farmácias de Gaia. Abrandou, mas após passar o Porto cada pedalada era mesmo uma facada. Almocei na N362 (já não me lembro onde), em direcção a Barcelos, durante a merenda envolvi o joelho em gelo e voltei a massajar as pernas. Descansei o suficiente para voltar a fazer os mais de setenta quilómetros que faltavam para chegar a casa. Estes foram sofridos, muito sofridos (as facas pareciam espadas). A pouco menos de 25km de casa encontro o meu pai e os meus sobrinhos que vinham de carro ao meu encontro. Foi um dos momentos mais marcantes desta viagem. Levantei os braços no ar juntei as mãos e limpei a lágrima que corria no rosto, pois a emoção foi forte e não a consegui conter. Parei a bicla, esperei por eles enquanto tomavam a direcção certa para me alcançarem… Abraçámo-nos e sorrimos uns para os outros. Foi emocionante, lindooooooo. O resto da viagem concluí sem o peso extra, apenas me fiz acompanhar de um bidão de água e um pêssego careca. Derramei mais umas lágrimas ao ver Ponte de Lima, ao ver a minha casa, a minha mãe, por ter conseguido em tão pouco tempo e sem incidentes .
Sim eu CONSEGUI, estou em CASA
O mais importante é que estava em casa com a família. Deliciei-me com a presença dos meus sobrinhos e dos meus pais. A vida continua... Já estou a "magicar" a próxima. Neste momento estou em repouso, difícil com cinco dos seis sobrinhos em minha casa, mas exequível :)
Muitos parabéns Fernando por teres conquistado este grande objectivo. Se fosse a volta a Portugal ganhavas de certeza a camisola amarela. Foste e serás sempre um vencedor. Bom descanso. Abraço. Filipe Lobo
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